Quer saber mais sobre o Marrocos? Confira o nosso Roteiro de viagem e se apaixone pelas cidades de Tânger, Rabat e Fez localizadas na região norte do país.
Você já se imaginou passeando por onde a personagem Jade, da novela “O Clone”, da Rede Globo, arrastava seu sari na Medina? Só precisa ter cuidado para não arder no mármore do inferno, Insha’Allah!
Aqui contaremos um pouco sobre a nossa tão sonhada viagem ao Marrocos, um destino incrível e que está presente no imaginário de todo brasileiro desde a tão famosa novela “O clone”, da Globo. E, como retratado nela, realmente é um país de muitas belezas, sabores marcantes, de gente simpática e hospitaleira.
Apesar do atraso cultural, ao seguir criminalizando as orientações sexuais não heterossexuais e as identidades de gênero trans (especialmente por se tratar de um país mulçumano), o Marrocos recebe muitos turistas do público LGBTQIAP+ e, se não houve exposições afetivas em público, dificilmente haverá problemas, visto que também faz parte da cultura do país evitar afetos “exagerados”, inclusive entre casais heterossexuais cisgêneros.
Outro ponto importante é a moeda: o Real, por exemplo, vale aproximadamente duas vezes mais que a moeda local, o Dirham, e essa diferença é muito bem-vinda na hora de realizar passeios, comer e se locomover pela cidade. Com relação ao euro, então, essa diferença passa a 10 vezes a moeda local.
Nós saímos de Madrid e, dada a proximidade com a Espanha, é possível encontrar voos a preços muito atrativos, independente da época do ano. Fomos com a empresa aérea low cost e líder na Europa, a Ryanair, sobrevoamos o Estreito de Gibraltar e, em pouco mais de uma hora, desembarcamos em Tanger, no norte do país, de onde seguimos viagem de trem, passando pela capital, Rabat, bem como pela tradicional e espiritual Fez (pronuncia-se “Féz”).
Agora vamos detalhar um pouquinho sobre cada um dos destinos que tivemos o prazer de conhecer neste país tão lindo…
Tânger, a porta de entrada da África
Como dito, começamos a nossa jornada por Tânger, uma cidade junto ao estreito de Gilbratar, banhada pelas águas atlânticas e mediterrâneas. O nosso tempo de visita na cidade era curto, pois no dia seguinte o nosso trem saía as 15:00 para Rabat. Por isso, decidimos aproveitar o pouco tempo visitando os pontos mais atrativos ao turismo, que, neste caso, foram o Cabo Spartel e a gruta de Hércules.
Cabo Spartel
Iniciamos a visita na parte da manhã. Tomamos um bom café-da-manhã, com direito ao famoso chá marroquino (de hortelã), e seguimos até o Cabo Spartel de táxi.
Situado na reserva natural do Cap Spartel e o ponto geográfico mais ao noroeste da África, é um cabo localizado na entrada sul do Estreito de Gibraltar. Ele se situa 14 Km a oeste de Tânger. Em frente ao Cabo Spartel, 44 km ao Norte, o Cabo Trafalgar marca a entrada norte do estreito na costa europeia. É possível observar lá no horizonte a silhueta do extremo sul da Espanha. Foi uma experiência incrível, e para quem gosta de apreciar a paisagem, aqui se tem um verdadeiro deleite!
Depois de tirar muitas fotos, que ficaram belíssimas, diga-se de passagem, partimos ao segundo ponto que tanto estávamos esperando, a Gruta de Hércules!
Para isso, é claro, tivemos que praticar nosso primeiro contato de pechincha… É isso mesmo, gente! No Marrocos, tudo é negociação, então já vá preparado para ter uma boa experiência comercial, até mesmo para pegar um táxi.
Gruta de Hércules
Ainda que em terras africanas, o próximo ponto que visitamos tem relação com a mitologia grega… Isso mesmo! Conhecida como “Gruta de Hércules”, está localizada a cerca de 5 km do Cabo Spartel e, como ele, também a 14 km a oeste da cidade de Tânger. Recebe este nome porque, segundo a lenda grega, o herói e filho de Zeus, Hércules, foi obrigado, por influência da deusa e esposa de seu pai, Hera, a realizar doze trabalhos de extrema dificuldade. O 11º desses trabalhos foi o de roubar três pomos de ouro do jardim das Hespérides, os quais dariam a imortalidade a quem os consumisse. Para chegar até esse local, Hércules tirou um bom cochilo onde? Sim, na Gruta de Hércules!
À parte os mitos que povoam o imaginário popular – e que é muito bem vendido aos turistas, diga-se de passagem, pois lá se pode encontrar à venda todo tipo de apetrecho que remete ao herói grego -, a gruta possui duas aberturas, uma voltada para a terra e outra para o mar – esta conhecida como “Mapa da África”, devido ao contorno que tem sua linda imagem. Acredita-se que os povos fenícios criaram essa abertura. A gruta é produto da erosão eólica e marítima, embora também tenha sido utilizada para extrair pedras das paredes para moinhos, expandindo-a consideravelmente.
Para ter acesso a essa linda experiência, pagamos apenas 40 dirhans, o que corresponde a 20 reais (mais uma vez, após uma boa pechincha, pois o valor normal era de 60 dirhans). Já se você não quiser entrar na caverna, não se preocupe, pois ainda assim conseguirá apreciar uma belíssima vista do Oceano Atlântico e tirar fotos impressionantes – sem contar que também há restaurantes ali em volta, então poderá tomar um suco ou refrigerante enquanto aprecia a bela vista.
Finalizamos a visita mitológica e voltamos logo ao apartamento onde estávamos hospedados, pois já estávamos bem cansados, precisávamos comer algo (nem que fosse um bom McDonalds na estação de trem), pois a próxima viagem sairia às 15h, rumo à atual capital imperial do Marrocos, a cosmopolita Rabat. Acompanhe como foi este passeio inesquecível!
Rabat, a capital do Marrocos
Antes de contar como foi já estando em Rabat, precisamos abrir uns parênteses e frisar que sempre estamos sujeitos aos bons e velhos “perrengues” das viagens. Aqui não foi diferente. Para você que está interessado em conhecer o Marrocos, saiba que os táxis, em sua maioria, não aceitam mais que três passageiros por viagem… É isso mesmo! Nós, que fomos em dois casais, acabamos perdendo os bilhetes da primeira passagem, que estava marcada para as 15h, justamente porque os taxistas não aceitavam nos levar todos juntos. Acabou que tivemos de pedir dois carros até a estação de trem – e comprar novos bilhetes, pois não havia devolução por perda de horário.
Passado o perrengue, conseguimos comprar novas passagens e partimos finalmente a Rabat. A viagem durou uma hora e 20 minutos aproximadamente e, embora tenhamos comprado a passagem em cima da hora, pagamos o mesmo valor que o normal, pois o preço é fixo: 185,50 dirhams por pessoa (segunda classe, relativamente okay – tirando a parte dos banheiros que, bem, vocês podem imaginar).
Chegando à estação de Rabat, imensa se comparada à de Tânger, fomos logo pedindo um táxi (os azuizinhos, que estão aos montes logo na saída da estação). Como não tínhamos ideia dos preços, pagamos o que o motorista nos cobrou… Só depois, com o passar do dia e chamando outros taxistas, foi que percebemos o quão superfaturado foi o primeiro: ele nos cobrou 70 dirhans, enquanto o valor normal seria de 11 dirhans, mas tudo bem, gente “esperta” tem em qualquer lugar do mundo; por isso, olhos bem abertos!
Plage de Rabat
Então logo que chegamos ao apartamento, tomamos um banho e já partimos rumo ao centro da cidade para ver o pôr do sol, e o lugar escolhido foi a Plage de Rabat. Ficamos à beira-mar, curtindo as magníficas vistas do Kasbah dos Oudayas. Do lado de cima, havia também um enorme, imenso cemitério muçulmano, que nos passou um mix de sentimentos na verdade… De qualquer forma, foi uma cena e tanto, indescritível de tão linda!
Rabat Corniche
Depois de contemplar a bela vista do pôr do sol, fomos jantar em um dos quiosquinhos que ficam em Rabat Corniche, uma área recreativa parecida com o porto de Málaga, na Espanha (outra viagem que fizemos e que, em breve, contaremos aqui). A vista desse lugar, voltada para o Kasbah dos Oudayas, é também incrível e um dos mais importantes pontos de cartão postal da cidade.
Em seguida, voltamos ao apartamento para dormir, pois, no dia seguinte, acordaríamos cedo para conhecer outros pontos turísticos da capital imperial.
Palácio Real de Rabat
Este ponto, na verdade, não estava inicialmente em nosso roteiro, mas sim no de nossa amiga. Lá, para poder entrar, tivemos que passar por um controle de passaportes, que foi bem rápido. Então pudemos prestigiar as belas vistas do Palácio Real, com o jardim e a mesquita imperiais. Tudo muito limpo, diga-se de passagem, o que nos deixou boquiabertos, pois não se encontrava sequer um papel de bala jogado no chão.
Saindo dali, fomos almoçar, pois, como diz o ditado brasileiro, já estávamos com o “estômago na testa”. Para tanto, escolhemos um restaurante tradicional dentro da Medina velha de Rabat (da qual logo falaremos). Obviamente, tivemos que degustar os pratos típicos do Marrocos: o saboroso cous-cous (ou cuscuz, para os íntimos), que se parece com uma mistura entre o paulista e o nordestino, e a famosa tagine (nome dado aos cozidos de carne com molho que são prepadados em panelas de barro denominadas “tagine”). Pedimos um menu, com entrantes e prato principal, que custou 135Dh por pessoa. Foi uma experiência gastronômica deliciosa!
Torre de Hassan
O próximo ponto turístico foi o mais icônico de Rabat, a famigerada Torre de Hassan. Ela é, na verdade, a torre principal de uma Mesquita, a qual foi inicialmente projetada para ser a maior do mundo. O sultão Almóada Yaqub al-Mansur, no século XII, planejou construí-la, mas as obras foram abandonadas após sua morte, em 1199. A torre deveria ter medido mais de 60 metros, mas só atingiu os 44. Hoje, o aspecto da Mesquita é o de uma floresta de grossas colunas, em que se destaca a grande torre.
Mausoléu de Mohamed V
Na mesma área da Torre de Hassan, no lado oposto, encontra-se o Mausoléu de Mohamed V (para quem não sabe, Mohamed é a tradução em árabe para Maomé). Esse é um edifício suntuoso que abriga o túmulo do rei que o intitula, bem como de seus dois filhos, Hassan II e Mulay Abdellah. Foi construído entre 1961 e 1971, em 10 anos de obras nas quais colaboraram mais de 400 artistas marroquinos. O desenho do mausoléu foi executado pelo arquitecto vietnamita Eric Vo Toan e caracteriza-se pelo seu estilo clássico árabe-andaluz dentro da arte tradicional marroquina.
Medina Velha de Rabat
Depois de sair do Mausoléu, nos dirigimos à Medina Velha de Rabat (diz-se “velha” porque há também a Medina “nova” – em árabe, Medina significa “cidade”, e a “velha” é considerada aquela que carrega as tradições muçulmanas, enquanto a “nova” é aquela que está externa aos muros daquela). Foi aí que “arrastamos nossos saris na Medina”, como dizia a famosa frase de “O Clone”. Dentro da Medina, pode-se encontrar de tudo um pouco, desde alimentação a utensílios domésticos, tudo por um precinho bem marroquino (claro, se pechinchado, como já disse anteriormente… Eles põem os preços nas alturas de início, depois vão abaixando por meio da “arte da negociação”). Para quem conhece o centro do Rio de Janeiro, pensem numa Uruguaiana, porém cercada por muros bem altos… Seria mais ou menos assim dentro da Medina.
Então, ainda dentro da Medina, fomos a um ponto famoso por seus doces árabes, chamado Café Maure. Lá você pode degustar essas guloseimas típicas junto ao famoso chá de hortelã marroquino, que é literalmente despejado da chaleira ao copo, uma ação também muito típica dali. Se você gosta de coco, o doce de coco deste local é um dos melhores (assemelha-se muito a cocada brasileira).
Depois dali, partimos de volta ao apartamento para descansar, pois, no dia seguinte, sairíamos muito cedo para conhecer a espiritual Fez, última cidade de nossa inesquecível viagem ao Marrocos.
Fez, a capital espiritual do Marrocos
Fez é uma cidade no nordeste de Marrocos, muitas vezes chamada de capital cultural e espiritual do país. Isso porque é muito conhecida pela sua Medina murada, denominada “Fes El Bali”, com seu famoso e imenso “Portão Azul” e arquitetura medieval Marinid. Fez já foi capital imperial do Marrocos durante algumas ocasiões, por isso também tem seu próprio Palácio Real. Além disso, é a cidade onde se encontra a primeira universidade do mundo ainda em funcionamento, a Universidade de Qarawiyyin, ou apenas Al-Karaouine, a qual foi fundada em 859 d.C. por uma mulher muçulmana, Fátima al-Fihri, a qual, após receber toda a herança milionária de seu pai, por ser extremamente religiosa, criou o edifício, que contava inicialmente com cursos de Teologia muçulmana e Medicina.
Para nós, brasileiros, esta cidade tem outra grande importância, especialmente para aqueles da geração Y ou Milenar, já que, sem dúvidas, tiveram contato com a famosa novela “O Clone”, da Rede Globo, com personagens icônicas, como Jade, Said, Khadija, bem como frases inesquecíveis, tais como “Insha’Allah”, “Mucho Oro” e “Haram, pecado”. Foi justamente em Fez que as cenas externas de “O Clone” foram gravadas. Quem não se lembra do Curtume que aparecia na novela? Pois foi este o primeiro ponto que visitamos. Acompanhe cada um dos nossos passos pela tradicional Fez…
Curtume de Fez
O curtume é uma área de processamento do couro e um dos lugares mais caracteristicos do Marrocos. O Curtume de Fez segue sendo um dos mais importantes do país e já foi um dos maiores exportadores de couro para a África e Europa. Aqui é onde é fabricado de maneira totalmente artesanal muitos objetos e peças de roupa cujo composto principal seja o couro, como cintos, carteiras, bolsas, jaquetas e muito mais.
Nós fizemos, literalmente, uma experiência imersiva! Nós andamos no meio do Curtume, gente, vocês conseguem imaginar isso? Geralmente, os turistas são encaminhados para o segundo andar do curtume para fazer suas fotos e vídeos. Conosco, não sei por que cargas d’água, foi diferente. Fomos escolhidos para fazer o trajedo DENTRO do curtume, passando por todos os espaços do processamento do couro, desde sua recepção até o produto final.
Aqui é necessário comentar sobre uma característica que, talvez, seja a mais marcante: o fedor. O cheiro que exala desse lugar é incomparável… A mistura do couro em decomposição com o ingrediente secreto que passam nele para que a tinta fixe melhor é inesquecível (o cocô de pombo, ou “caca chanel number 1”, como chama o guia do local, aludindo “coco chanel”, traz um aroma tão inconfundível quanto o do delicioso perfume importado, porém ao contrário). O curioso é que nos dão alguns raminhos de hortelã na entrada, para que se dissipe um pouco o fedor (obviamente não adiantando de nada).
Embora o fedor, a experiência vale a pena. Confesso que, depois que passou aquele cheiro, conseguimos raciocinar melhor, e então refletimos sobre as condições péssimas de trabalho a que são submetidos aqueles trabalhadores. De verdade, estando lá, você mal consegue raciocinar, tamanho é o fedor. Sobre os “curtidores”, são tomados como uma das profissões mais duras do Marrocos, pois, embora os trabalhadores tenham um pau para retirar as peles de dentro dos baldes, por vezes os curtidores tendem a entrar nesses poços que são, realmente, nojentos. Ainda assim, é considerada uma atividade artesanal que passa de geração em geração. As peles tratadas neste local são utilizadas na confecção de bolsas, carteiras ou cintos de couro; produtos de alta qualidade feitos através dos esforços de numerosos trabalhadores marroquinos ao sol e à sombra nestes curtumes.
No nosso perfil do Instagram postamos um video dedicado a nossa experiência no curtume, não deixe de conferir em bilasnagringa.
Palácio Real
Outros pontos importantes da cidade e que merecem a visita é o Palacio Real e o Jardim Imperial de Fez. o Palácio é uma das residências da familia real do Marrocos e o maior palácio do país. No entanto, cabe destacar que a visita ao interior do palácio não é aberta aos visitantes, mas, vale a pena contemplar as impressionantes portas do palácio do lado exterior.
Medina de Fez
A medina de Fez, também conhecida como Fez el Bali é a parte mais antigas da cidade. Nela há alguns dos edificios mais lindos do Marrocos, entre eles dois monumentos construidos no século IX, a Mesquita dos Andaluzes e a Mesquita de El-Qaraouiyyîn. A medina de Fez é considerada como a maior zona de pedestres do mundo e foi classificada como um Patrimonio da Humanidade em 1981 pela Unesco. Realmente, ela é enorme! e, como ficamos pouco tempo na cidade, não pudemos ver nem metade daquilo que ela nos oferece. Ainda assim, passeamos e compramos algumas lembranças que guardaremos com muito carinho. Também, tivemos o privilégio de ver a medina de Fez em um dos miradores da cidade.